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Após assistir o desempenho de Carlos Sainz e ver o decepcionante final de semana de Daniel Ricciardo no GP da Austrália, 3.ª etapa do mundial de F1, lembrei do ano 1998, sobre o que representa a escolha de ser um piloto de corrida e o que esse esporte pode nos ensinar para a vida.

 

Vou contar essa história.

 
Era início do ano. Depois de três anos temporadas correndo na Speed 1600 (Fuscas), e duas no gaúcho de Marcas — Copa Chevette, (vice-campeão/97), graças ao talento do meu companheiro Rogério ´Alesi´ Donelli, resolvi querer ser campeão por conta própria.
 
Nesta época, corria na equipe Mottin Racing e antes de renovar meu contrato (eu pagava para correr numa das melhores equipes do Rio Grande do Sul) vi na oficina do Luciano Mottin uma fórmula Ford preta, entre os carros de corrida.
 
O professor Quadrado havia comprado o Muffatão e quando observou o brilho dos meus olhos percebeu... “ — Torino, porque tu não alugas esse carro? O campeonato foi modificado e terá a participação dos carros mais antigos (Classe B), serão mais de dez e vai ser muito competitivo com às duas classes correndo juntas”. Então perguntei: — Quem irá preparar? E o professor me disse: — "O Zé Laênio".
Não pensei duas vezes e fechamos o negócio. Zé havia acompanhando toda a carreira do piloto Francisco Feoli no brasileiro e sul-americano de F-2.
 
Uma semana depois estacionei o carro na frente da casa do Zé e caminhamos em direção à oficina. A porta da garagem estava aberta e todas às luzes iluminavam o chassi do fórmula. O carro estava sobre dois cavaletes, iguais aos que as equipes de F-2 colocavam os monopostos antes das corridas nos autódromos. Era só o cockpit, sem as rodas, nu e o alumínio brilhava como novo. Às duas laterais estavam posicionadas uma de cada lado, com a cobertura das carenagens debaixo do chassi. O bico estava pendurado na parede, como uma moldura e o aerofólio estava no chão, atrás do carro. O Zé ficou nos olhando, estávamos paralisados na porta, e ele disse: “ — Entrem!... Torino, pode subir no carro... e alcançou um pequeno banco para embarcar pela primeira vez naquele cockpit. Tirei os tênis e mergulhei para dentro do fórmula, ainda sobre os cavaletes. Quando dobrei os pés para que passasem sobre as proteções de ferro que cobriam os pedais, a Patricia arregalou os olhos e sentiu o perigo...
 
Antes de cada prova, aquela cena se repetiu inúmeras vezes e nunca mais esqueci daquele dia. Nos autódromos, vestido com o mesmo macacão Simpson que Chico Feoli havia corrido seus campeonatos de F-2, sempre pensava no privilégio de estar pilotando aquele carro que um dia foi de Aroldo Bauermann no Sul-Americano CODASUR de Fórmula 2, com o Muffato chassi n.º 005 de 1983.
 
Amarrado no cinto de cinco pontas, de capacete, sapatinha, balaclava e uma camiseta antifogo, aguardava com felicidade a autorização do Zé para partir. Com as luvas agarradas ao volante, meu coração disparava quando o motor era ligado e aquela sensação das rodas girando e das pequenas pedras que pipocavam do asfalto batendo sobre a viseira faziam parte do ritual anunciando que o espetáculo estava para começar.
 
Corri 11 provas e venci 9, fazendo 7 poles. Fui o primeiro campeão gaúcho da F-Ford da classe B do Rio Grande do Sul e no final do ano de 98 levei para casa o troféu Catharino Andreatta.
 
Ainda hoje posso sentir a emoção de guiar aquele fórmula e relembrar o prazer que cada corrida me proporcionou.
 
No automobilismo como na vida, não podemos obter sucesso sem fazer escolhas, sem encontrar paixão, sem correr riscos e ter vontade de vencer.
 
Ontem, antes de sair do circuito Albert Park, Carlos Sainz afirmou:
 “ Não corro para provar aos gerentes de equipe ou às pessoas o meu valor. Eu corro sozinho. Corro para continuar provando para mim mesmo que posso vencer desde que tenha um carro competitivo”

Carlos Sainz




 

De Portugal: Paulo Torino

25 março 2024



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