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1º maio 1994


COMO NOS TEATROS ROMANOS


Há exatos 30 anos, Ayrton Senna chegava ao autódromo de Ímola para disputar o seu 161º GP na F1 e o objetivo era o mesmo: vencer.




A temporada havia começado mal na Williams. Depois de dois GP, o tricampeão não tem um único ponto na tabela de classificação, enquanto o rival, Michael Schumacher e a Benetton somam duas vitórias.
“Ayrton Senna e Damon Hill andavam pilotavam o Williams FW16 redesenhado por Adrian Newey na Itália. O carro trazia uma asa dianteira elevada de dois a três centímetros e um novo design de suspensão para estabilizar o chassis. Além disso, Senna estava insatisfeito com sua posição de dirigir, que não mudou desde que Nigel Mansell deixou a equipe 1991. Assim como Alain Prost em 1993, o brasileiro reclamava regularmente de tendinite nos braços e pede aos mecânicos que empurrem o volante para trás, o que resulta na redução da coluna de direção. O trabalho foi feito pouco antes deste da primeira sessão de treinos Livres, desceve o site STATSF1 e procegue narrando os acontecimentos daquele domingo.
 
Entre Aïda e Imola, Senna foi à sede da Renault-Sport, em Viry-Châtillon, foi no dia 20 de abril. Ele visitou as oficinas, os escritórios de design e conquista os técnicos durante um amigável almoço falando em francês. Ele promete vitória em Ímola e depois em Mônaco. Além disso, ele conta a eles que acredita que a Benetton usa controle de tração ilegal. Os engenheiros da Renault também estão convencidos de trapaça e têm meios para também contornar o regulamento, mas se recusam a fazê-lo, assim como Senna, determinado a derrotar Schumacher de forma regular. Na mesma noite, o paulista foi ao Parc des Princes para dar início a uma partida amistosa de futebol entre o PSG e a seleção brasileira. O jogo será zero a zero. “Bem, isso me lembra de algo!” - suspira Ayrton depois da partida e sua expressão não esconde uma certa tensão. Além dos contratempos nas corridas, ele ainda está lutando para se acostumar com sua nova equipe. Frank Williams e Patrick Head não sabem como deixá-lo à vontade. Ele realmente sente falta da McLaren. Além disso, Senna enfrenta problemas pessoais. Seu relacionamento com a jovem namorada, a modelo Adriane Galisteu, se deteriora. Ela ganhava ainda mais notoriedade depois de posar em fotos eróticas, e tudo aquilo desagradava muito a família Senna e o próprio piloto.
 
Michael Schumacher também é destaque nas páginas das revistas e jornais. Ele desfila com o seu mais novo presente: um Bugatti EB110 Super Sport, capaz de atingir 400 km/h em linha reta. “Em comparação, estou mais calmo na minha Benetton! » brinca o jovem alemão. Dentro dos boxes, a Ford trabalha sério e traz para Ímola uma evolução do seu Zetec V8 para lhe permitir competir com o Renault V10 nas longas acelerações do autódromo italiano. Schumacher acga que está pronto para enfrentar o desafio lançado e está determinado na batalha de vencer a Williams e Senna. Nas coletiva declara: “Sou igual ao Senna. Não tenho medo de comparações. Não acho que ele seja mais forte do que eu ao volante no mesmo carro!” respondendo ao jornalista Pierre Michaud. 
 
Os fãs esgotaram os ingressos e queriam testemunhar o desempenho da Ferrari. Eles sabem que Gerhard Berger e Nicola Larini não podem almejar uma vitória, mas um pódio - é possível!... John Barnard também trabalhou no eixo dianteiro do 412 T1, que está equipado com uma nova asa para reduzir a instabilidade. Por outro lado, Berger está testando a primeira versão do novo V12 043 que deverá entrar em serviço em julho. Este doze cilindros 75° V pesa três quilos a menos que o atual 041. No sábado, os italianos aplaudiram de pé Jean Alesi, que veio visitá-los apesar de sua convalescença. Alguns dias antes, o residente de Avignon fez um exame tranquilizador. O professor Saillant lhe deu luz verde para participar do próximo Grande Prêmio de Mônaco. Alesi não esconde o alívio. Além disso, os italianos descobriram um novo favorito é o piloto brasileiro Rubens Barrichello, cujos ancestrais distantes vieram de Treviso. Surpreendentemente segundo colocado no campeonato, o pequeno paulista de rosto redondo é seguido de perto por Eddie Jordan. “Tenho medo que bandidos calabreses sequestrem o Rubens! “ diz, sorrindo.
JJ Lehto finalmente faria sua estreia ao volante da Benetton-Ford após ser substituido por Jos Verstappen. O finlandês, lesionado no pescoço em Silverstone em janeiro, parece pronto para este novo desafio: viver ao lado de Michael Schumacher. Além disso, Eddie Jordan diz confiar em  Andrea de Cesaris, que conta com o apoio da Philip Morris. O romano cumprirá esta função até a volta de Eddie Irvine, marcada para o GP da Espanha.
 
A sorte estava ao lado de Rubens Barrichello
 
Na tarde desta sexta-feira, Rubens Barrichello inicia o primeiro treino classificatório com confiança. Satisfeito com as afinações, abriu sua primeira volta cronometrada a toda velocidade. Ele ataca a chicane (Variante Bassa): segue uma direita, uma esquerda, depois uma reta curta, uma esquerda e uma direita. Barrichello chega rápido demais nessa sequência: pisa no freio, mas segue na trajetória errada. Ele atinge um canto alto da zebra a primeira à direita. Desequilibrado, perde o controle de seu Jordan-Hart e não conseguiu se aproximar da curva à esquerda que segue só com o olhar. Lançado a 200 km/h, o carro é lançado para o ar e bate na cerca sobre o muro de proteção. Mais um voo, antes de pousar sobre o acostamento.


Os espectadores prendem a respiração diante dessas imagens terríveis. Em poucos segundos, os comissários já estão ao lado do Jordan destruído. O Dr. professor Sid Watkins, auxiliado pelo Dr. Giuseppe Piana e seus colegas socorristas, chegam ao local rapidamente para prestar os primeiros socorros. Barrichello permanece inerte dentro do carro, com o rosto sangrando. Felizmente, ele sobrevivera ao choque. Mas foram necessários uns bons vinte minutos para que os serviços de emergência o evacuassem para a enfermaria do circuito. Seu amigo Ayrton Senna, muito preocupado, foi imediatamente visita-lo e depois tranquilizou a imprensa: "Ele está tudo bem. Está em choque, isso é normal, mas recuperou os sentidos”. Barrichello passou por uma bateria de exames. Seus órgãos vitais não foram afetados. Ele sofreu apenas um pequeno ferimento na cabeça, o nariz está quebrado, além de vários hematomas nas costas. Ele foi enviado para observação no Hospital Maggiore, em Bolonha.
A sessão de qualificação é interrompida e só foi reiniciada uma hora depois.
Na manhã seguinte, Barrichello já está de volta ao circuito. Com o braço na tipóia, ele obviamente não vai participar do Grande Prêmio, mas se considera sobrevivente de um verdadeiro milagre. Na verdade, deve a sua vida ao fato do carro ter saltado após o impacto contra a tela e os cabos de proteção, o que permitiu a dissipação da energia cinética. Ele confessa o erro de pilotagem, mas também aponta as zebras possuem um ângulo capaz de se transformar em um trampolim. A FIA e os responsáveis pelo circuito estão analisando seriamente a questão. Barrichello discute o assunto com Senna, que veio cumprimentá-lo em sua chegada. Eles decidem voltar a falar sobre isso no GP de Mônaco. O jovem brasileiro deverá permanecer na Inglaterra até a sua recuperação total.
 
Um clima pesado permaneceu sobre o circuito de Ímola...
 
 A morte de Roland Ratzenberger
 
Sábado, 30 de abril de 1994, 13h15. A segunda sessão de qualificação começou há cerca de um quarto de hora. A grande maioria dos pilotos estão na pista para melhorar os tempos do dia anterior. Entre eles, Roland Ratzenberger, ao volante do modesto Simtek. O austríaco briga com o francês Paul Belmondo para se colocar na 26ª e última vaga da sessão classificatória. As coisas parecem muito boas, já que ele já fez progressos significativos em relação ao dia anterior (1'27''371''' contra 1'27''657'''). Na terceira volta, ele subiu na zebra da Acque Minerale e provavelmente danificou o carro. Ele sente que sua máquina está mais difícil de pilotar e mesmo assim não retorna aos boxes e inicia um novo volta. Ratzenberger se aproxima da curva Villeneuve a 308 km/h quando a ponta da asa esquerda dianteira se solta. O Simtek fica incontrolável, é lançado como uma bala de canhão contra a parede externa do circuito. O impacto é terrível, num ângulo perigoso. O carro desliza ao longo da muralha antes de parar pouco antes de curva Tosa. O capacete encosta no lado direito do cockpit e seu lado esquerdo está quebrado. A cabeça de Ratzenberger balança num solavanco, e não se move mais.


A bandeira vermelha foi imediatamente agitada. Como no dia anterior, os serviços de emergência chegaram ao local em menos de trinta segundos. Como no dia anterior, o Dr. Sid Watkins é o primeiro a chegar ao local. Ele imediatamente percebe a gravidade da situação. Ratzenberger está em parada cardíaca. O helicóptero médico parte e pousa o mais próximo possível do local da tragédia. As câmeras de televisão são convidadas a se afastar. Nas arquibancadas, o medo está estampado no rosto de todos. Ayrton Senna, arrasado, pegua um veículo e vai até Tosa ver, para entender o que aconteceu. Ele é rejeitado é impedido pelos socorristas de chegar no local e à noite irá receber uma reprimenda formal dos comissários. Enquanto isso, os médicos estão ocupados realizando uma massagem cardíaca no chão. Watkins e seus colegas compreenderam rapidamente que não havia nada mais a fazer. O choque foi tão violento que o piloto morreu instantaneamente. Mas a lei italiana estipula que qualquer evento que envolva um acidente fatal deve ser interrompido para que a justiça possa realizar a sua investigação. Obviamente não se trata de cancelar o GP de San Marino. O corpo de Roland Ratzenberger foi transportado de helicóptero para o hospital de Bolonha, onde a sua morte foi oficialmente declarada às 14h15. O austríaco tinha 34 anos.
 
Esta tragédia gera uma onda de choque dentro do mundo da Fórmula 1. Ratzenberger é o primeiro piloto a morrer ao volante de um F1 desde Elio de Angelis em 1986 e num Grande Prêmio desde Riccardo Paletti em 1982. A maioria dos jovens corredores enfrentam seu primeiro acidente fatal. Algumas pessoas pensavam que era impossível se matar porque os monopostos pareciam muito seguros. A verdade é que naquele sábado à noite um piloto estava morto. Ratzenberger, o homem bonito, moreno, atlético, admirado como “galã” no padoock, havia concluído sua passagem meteórica na F1. Ele era um jovem lutador, que estava sendo apoiado em Ímola por uma amiga empresária e um patrocinador japones, que estavam prontos para financiar o resto de sua temporada. Seus companheiros Johnny Herbert, Heinz-Harald Frentzen, JJ Lehto (com quem chegou ao circuito) e claro Gerhard Berger, seu protetor e amigo, estão arrasados.
Não há dúvidas sobre as causas da tragédia. Ratzenberger perdeu um pedaço da asa dianteira, o que desgovernou seu Simtek contra uma parede a 300 km/h. Mesmo um sujeito forte como o austríaco não conseguiria sobreviver a uma colisão a tal velocidade. Mas por que esse elemento saiu? Ratzenberger subiu numa zebra na volta anterior, mas naquela manhã também teve um pequeno contacto com o seu companheiro de equipa David Brabham. Os mecânicos da Simtek negligenciaram o exame desta parte? Será que Ratzenberger, ignorou este detalhe? Algumas más línguas apontarão o dedo ao suposto amadorismo da Simtek: uma equipe jovem e sem recursos, incapaz de fornecer equipamentos seguros a esses pilotos. Nick Wirth responde a estas acusações com um silêncio absoluto.
 
O trabalho de pista é retomado após o acidente de Ratzenberger. Sem Senna, que desabou em prantos na frente do amigo Sid Watkins ao saber da morte do austríaco...
 
O grid de largada
 
Senna conquistou a 65ª pole position da carreira, com o tempo de sexta-feira (1'21''548'''), mesmo não participando do segundo treino classificatório. Hill largará em (4º) seis décimos depois atrás. A Benetton-Ford se mostra formidável e Schumacher é (2º),  apenas três décimos atrás de Senna. Lehto ocupa o quinto lugar pelo seu retorno. Na Ferrari Berger era 3º e Larini o 6º, ambos ainda enfrentando problemas técnicos nos carros. Frentzen leva sua Sauber-Mercedes à sétima colocação, com seu único tempo na sexta-feira. Ele também não vai à pista no sábado, em respeito ao amigo Ratzenberger. Seu colega Wendlinger é o décimo. Os McLaren sofrem com a  falta de potência do V10 Peugeot: Häkkinen (8º) está um segundo e meio distante de Senna, Brundle (13º) mais de dois segundos.
  
Os Tyrrell (Katayama 9º, Blundell 12º) estão mais uma vez bem graças ao potente motor Yamaha. Do lado do V8 Ford HB, os Arrows (Morbidelli 11º, Fittipaldi 16º) ficam lado a lado com os Minardi (Martini 14º, Alboreto 15º). A cavalaria do V10 Renault permite que os Ligier (Bernard 17, Panis 19) permaneçam no grid. Tempestade na Larrousse: Comas (18º) faz um bom trabalho, Beretta (23º). Herbert em (20º) e Lamy (22º) contentam-se em qualificar os seus antigos Lotus-Mugen, ainda sem aderência. De Cesaris sairá de (21º) ao lado da Simtek, Brabham (24º). A posição 26 seria de Ratzenberger. Finalmente,  Gachot alinhará na 25ª posição, e salvando o Pacific-Ilmor, encontraremo Belmondo em 27º, fechando o grid de Ímola.
 
Recomeça a campanha pela segurança
 
A morte de Roland Ratzenberger lembra a todos que a Fórmula 1 é um esporte perigoso e que ninguém está a salvo de uma reviravolta do destino. Principalmente nesta temporada de 1994, quando os F1, cada vez mais potentes mas desprovidos de ajudas eletrónicas, eram muito difíceis de pilotar. Niki Lauda relembra esta incerteza cruel: “Controlar a velocidade é a beleza das corridas. Através de pesquisas e desafios repetitivos, pensávamos que os perigos estavam desaparecendo. Estávamos todos errados: temos de ter a coragem de admitir”. E Ayrton Senna, pálido, também não esconde a sua preocupação: “A mais de 300 km/h, nossas reações e nossas sensações estão no limite. Não podemos controlar todos os parâmetros dos carros. Temo pelos jovens: as velocidades nos circuitos são sempre maiores e nada acontece”.
Ayrton Senna está particularmente preocupado com esta tragédia. Percebendo seu desânimo, Sid Watkins sugere que ele largue tudo e vá pescar com ele. “Doutor, tem coisas que a gente não tem controle”, responde o brasileiro. “Não posso parar, tenho que continuar”.  À noite, em seu quarto de hotel, Senna teve longas conversas com sua companheira Adriane, depois com seu agente Julian Jakobi, a quem manifestou o desejo de não correr no dia seguinte. Senna, que nunca tinha visto um colega morrer em um circuito, fica traumatizado. Ele realmente considerou não competir no Grande Prêmio? Aposentar-se? Foi um mau pressentimento? Nunca saberemos.
De qualquer forma, na manhã de domingo foi um Senna um tanto animado que apareceu no autódromo Enzo e Dino Ferrari. Ele pensou muito durante a noite. Ele acredita que os pilotos devem se unir e pressionar a FIA para melhorar a segurança. Seu amigo Gerhard Berger está na mesma sintonia e pensa em ressuscitar o GPDA. Primeiramente, Senna conversou com Michael Schumacher, e naquele momento a animosidade entre os dois foi esquecida: Schumacher concorda em apoiar Senna nesta luta. Em seguida, o campeão brasileiro conversa com Damon Hill e Niki Lauda, ​​que estão prontos para lhe dar a mão. Todos planejam se reunir em Mônaco para fundar esta nova associação. Durante o briefing, Roland Bruynseraede foi bombardeado com recriminações. Os pilotos denunciam o bloqueio das suspensões ativas, o estreitamento da largura dos pneus e o desaparecimento dispositivos auxiliares de direção. Berger e Hill reclamam do safety car, que, segundo eles, impede os motoristas de aquecer adequadamente os pneus antes da relargada, deixando os carros perigosos. Uma atmosfera sufocante reina na sala.
 
Tensão no ar
 
Durante o aquecimento, Ayrton Senna comenta ao vivo de sua Williams-Renault no canal de TV francês TF1. Sabendo que seu ex-rival Alain Prost está no estúdio, Senna lhe manda esta mensagem: “Antes de começarmos, uma saudação especial ao meu... ao nosso querido amigo Alain. Estou com saudades de você, Alain!” Prost, surpreso e emocionado, lembrará dessas poucas palavras por toda a vida.
Uma grande tensão pesa sobre o grid de largada. É claro que todos estão pensando em Roland Ratzenberger, mas também no acidente que aconteceu com Rubens Barrichello. Senna, amarrado no cockpit, permanece com a cabeça descoberta por longos minutos, contrariando seu hábito de colocar imediatamente o capacete. Assim como seus 24 colegas (a vaga de Ratzenberger continua vazia), ele tenta se concentrar na prova que está por vir, que promete ser muito dura. Schumacher não escondeu seu desejo de conquistar a terceira vitória consecutiva e estabelecer ainda mais seu domínio no campeonato. Senna sabe disso. No warm up, fez excelentes tempos, só para pressionar o alemão. Nas boxes, os técnicos e engenheiros da Williams e da Benetton preparam-se para uma corrida muito estratégica, com pelo menos duas paragens nas boxes para os seus pilotos. Schumacher larga com menos combustível que Senna e por isso vai parar primeiro.
 
GP - Primeira largada
 
Volta de formação: Alboreto sofre falha elétrica em seu carro irá partir dos boxes.
Largada: Senna larga bem deixando Schumacher atrás, seguem próximos, Berger, Hill, Frentzen e Katayama. No meio da confusão, Lamy atinge um obstáculo a toda velocidade e segue praticamente sem o lado direito do carro. Ele acertou Lehto por trás. O choque foi muito violento espanhando destroços para todos os lados, bem como duas rodas do Lotus, que saíram da pista e voaram em direção às arquibancadas. O piloto português só parou quase duzentos metros do ponto de impacto. Todo o lado direito do seu Lotus está faltando, mas felizmente ele não está ferido.

1ª volta: Os detritos de carbono cobrem a reta principal. Roland Bruynseraede o diretor da prova ordena a entrada do safety car. Embora Lehto e Lamy tenham saído ilesos, os destroços de suas máquinas romperam as cercas de proteção. Três espectadores e um policial ficaram levemente feridos por uma roda solta vinda do Lotus. Os bombeiros intervieram nas arquibancadas para ajudá-los, mas esses fatos só serão conhecidos depois da corrida.
 2º: Os carros se alinham atrás do Pace Car. Senna lidera o pelotão à frente de Schumacher, Berger, Hill, Frentzen, Häkkinen, Larini, Wendlinger, Katayama e Brundle. Comas e Bernard estão atrás.
3º: Os fiscais de pista limpam o asfalto na linha de cronometragem. Eles retiraram os dois carros e varreram o óleo derramado do carro de Lehto. Enquanto isso, fãs entusiasmados encorajam Berger em voz alta.
5º: As luzes do safety car se apagam, significando que a corrida será reiniciada na próxima volta. Schumacher segue atrás de Senna, pronto para surpreendê-lo na nova aceleração.
6º: O Pace Car desaparece, as bandeiras verdes são agitadas. Senna mantém a liderança à frente de Schumacher que mesmo assim não desiste de se aproximar. Berger, vai ficando para trás. Tocado por Bernard um pouco antes, Comas sentiu vibrações em seu Larrousse e voltou aos boxes para examiná-lo. 
7º: Pressionado por Schumacher, Senna se aproxima da grande curva Tamburello a 300 km/h. De repente, enquanto ela se prepara para sair da curva, a Williams não vira mais. Senna só tem tempo de frear. O Williams bate violentamente na parede de concreto e deslisa na faixa de areia da área de escape. Estacionado a dezenas de metros, uma chuva de detritos ainda cai sobre o cascalho. Todo o lado direito está demolido, mas a célula de sobrevivência está intacta. Uma multidão ao redor do circuito e do mundo assitie atento algum movimento, um gesto de Senna. O capacete amarelo balança por uma fração de segundo. E está feito. São 14h17.


 
O suspense
 
O Grande Prêmio é obviamente interrompido pela bandeira vermelha. Os carros alinham no grid de largada. A equipe médica demora mais de um minuto para chegar a Tamburello. E o horrível balé visto na sexta por Barrichello, no sábado por Ratzenberger, recomeça. O professor Watkins, debruçado sobre o corpo do amigo, descobre com horror um rosto sem vida e ensanguentado. Um braço de suspensão perfurou o crânio de Senna como um sabre. A situação é desesperadora, mas o coração do piloto ainda bate. Ele é medicalizado na pista. O helicóptero de resgate pousa em um trecho entre Tamburello e Tosa, e parmanece pronto para decolar. Espectadores, telespectadores, jornalistas vivem momentos horríveis. Nos boxes, a maioria dos dirigentes opta pelo silêncio e não alerta seus pilotos sobre a gravidade da situação.
 
Cerca de quinze minutos após o impacto, enquanto os médicos e socorristas trabalhavam ao redor de Senna, Érik Comas saiu dos boxes e o ruído do motor é a única coisa que se ouve em Ímola. Ele chega ao final do pit lane onde, inexplicavelmente, o sinal ainda estava verde! Ele avança em velocidade, acelera, atravessa Tamburello... e vê o helicóptero médico e os fiscais à sua frente, no meio da pista. Comas freia imediatamente, desliga o motor e pergunta sobre a situação. É assim que ele vê Senna, o homem que salvou sua vida dois anos antes, em Spa, está caído em uma poça de sangue. Ele não poderá fazer nada por ele. Comas, apavorado, é o único piloto que conhece a triste realidade. Ele observa a cena. Nos destroços do Williams FW16, um comissário descobriu uma pequena bandeira austríaca. Ironia do destino: Senna planejou homenagear Ratzenberger durante uma possível volta da vitória.
 
Às 14h35, Senna, colocado em uma maca, completamente inconsciente, foi transportado de helicóptero para o hospital Maggiore, em Bolonha. Enquanto isso, os carros voltam ao grid de largada com seus pilotos. Roland Bruynseraede anuncia que a corrida será reiniciada a partir da 7ª volta e será encurtada em três voltas. A classificação será feita somando os tempos. O novo grid é a seguinte: Schumacher, Berger, Hill, Frentzen, Häkkinen, Larini, Wendlinger, Katayama, Brundle, Morbidelli, Blundell, Fittipaldi, Herbert, Panis, de Cesaris, Beretta, Brabham, Gachot, Bernard e Alboreto. Muito chocado com o que viu alguns minutos antes, Comas decide não participar.
Uma enorme confusão reina neste novo grid de largada. Os pilotos não são informados do estado de saúde de Senna. Todos suspeitam que o acidente seja grave, mas desconhecem a natureza das lesões do brasileiro. Alguns gerentes de equipe tentam vagamente tranquilizá-los para que permaneçam focados na corrida. Na Williams-Renault, é claro que há consternação. Frank Williams, Patrick Head, Adrian Newey, Bernard Dudot, Christian Contzen, David Brown e Ian Harrison, o diretor esportivo, realizam um verdadeiro conselho de guerra. No momento, a causa do acidente de Senna é desconhecida, mas provavelmente é uma avaria mecânica. A questão passa a ser: será seguro deixar Damon Hill largar?. Ele, obviamente ansioso, hesita. Ann Bradshaw, assessora de imprensa da equipe, admitiu que o estado de seu companheira era extremamente grave. Hill recua. Dickie Stanford, o engenheiro-chefe, o silencia empurrando-o sem cerimônia em direção ao carro, com mau-olhado. Na Williams, aconteça o que acontecer, a corrida continua...
 
Segunda Largada

Segunda volta de formação: Frentzen desliga o motor. Ele terá que largar dos boxes.
Segunda largada: Schumacher patina as rodas, permitindo que Berger assuma o controle. Atrás do alemão estão Hill, Häkkinen e Larini.
6ª volta: Hill tenta passar por dentro de Schumacher na Tosa mas o alemão não lhe deixa espaço. O inglês danificou a lateral no choque com o Benetton e vai aos boxes.
7º: Na pista, Berger está à frente de Schumacher por uma folga, mas na cronometragem oficial o alemão continua em primeiro, dois segundos à frente do austríaco. Hill para para substituir a a frente do carro e volta em último.
8º: Schumacher permanece atrás de Berger. Häkkinen está isolado na terceira linha.
9º: Schumacher tenta em vão passat Berger antes de Tosa. O austríaco resiste e em desespero, cai no choro dentro do cockpit.
10º: Hill faz a melhor volta do dia (1'24''335). Enquanto isso, começaram a circular os primeiros rumores sobre a saúde de Senna. No canal francês TF1, foi divulgado que o brasileiro sofreu apenas uma fratura no ombro e estaria fora de perigo. A BBC, cita o comunicado do hospital de Bolonha falando em “graves ferimentos na cabeça”. 
11º: Na classificação oficial, Schumacher lidera Berger (1,5s.), Häkkinen (12,2s.), Larini (14,2s.), Wendlinger (16s.), Katayama (20,7s.), Morbidelli (27s.), Frentzen (27s.). (27,7s.), Fittipaldi (28,7s.) e Brundle (30,7s.).
12º: Frentzen luta contra Morbidelli e Fittipaldi pela sétima colocação.
13º: Schumacher aproveita o vácuo de Berger antes de Tosa, mas o piloto da Ferrari tranca as portas. Pouco depois, Berger erra na Acque Minerale, permitindo que Schumacher assumisse a liderança. Mas o jovem alemão regressou aos boxes para o primeiro reabastecimento. A parada é um pouco longa (10 segundos), e Schumacher cai para o terceiro lugar na classificação geral, para o oitavo lugar na pista.
15º: Berger está doze segundos à frente de Häkkinen que é seguido de Larini e Wendlinger. De Cesaris e Herbert param para reabastecer.
16º: Berger entra nos boxes e seus mecânicos fazem uma parada rápida (7s.). O austríaco volta colado em Schumacher. Häkkinen assume o controle da corrida: a primeira vez na temporada para um McLaren-Peugeot.
17º: Berger retorna aos para abandonar. Oficialmente, a equipe declara que suspensão traseira está quebrada. Mas, na verdade, Gerhard, sabe que seu amigo Senna está morrendo, e não consegue continuar. Schumacher ultrapassa Morbidelli e sobe para sexto lugar no pelotão. Na verdade, ele é o segundo na soma dos tempos. Reabastecimento de Wendlinger.
18º: Häkkinen lidera à frente de Schumacher (1,3s.), Larini (2,2s.), Katayama (9s.), Morbidelli (14,5s.) e Fittipaldi (18s.). Wendlinger e Hill reabastecem. Beretta abandonada, motor soltando fumaça.
19º: Häkkinen troca pneus e abastece. Larini recupera o primeiro lugar na pista, mas Schumacher é o novo líder oficial. Os comissários colocam selos na Ferrari de Berger para examinar seu motor e software após a corrida, com o objetivo de detectar a possível presença do controle de tração. 
20º: Schumacher ultrapassa Fittipaldi, depois Katayama e vai atrás de Larini.
21º: Na classificação oficial, Schumacher ultrapassa Larini por quatro segundos. Na pista, o italiano está dois segundos à frente do alemão. Paradas em Morbidelli, Katayama e Panis.
23º: Fittipaldi, Frentzen e Martini fazem seus primeiros pit stop.
24: Schumacher ultrapassa Larini por dentro na Tosa. Agora ele também é líder na pista.
25º: Schumacher está à frente de Larini (8,5s.), Häkkinen (21s.), Wendlinger (26s.), Katayama (31s.), Morbidelli (33s.), Fittipaldi (36s.), Frentzen (42s.) e Blundell (anos 50. .). Brundle persegue Martini pelo décimo lugar. Gachot estaciona na área de escape da Acque Minerale após uma queda na pressão do óleo.
26: Brundle ultrapassa Martini entre Tamburello e Tosa. O italiano mantém trajetória para a esquerda e acaba erando a freada. Martini toca na McLaren com a roda dianteira direita e gira. Felizmente, ele consegue se manter na pista.
27º: Schumacher assume a liderança e deixa Larini atrás treze segundos. Häkkinen está sob ameaça de Wendlinger.
28: ​​Schumacher é prejudicado por de Cesaris que persegue o Ligier de Panis. Ele ultrapassa os dois pilotos na curva de Villeneuve. Alboreto está parado.
29º: Brabham quebra a direção e coloca seu Simtek numa saída de segurança. Hill recupera posições e já está em nono lugar.
30º: Larini faz ser único reabastecimento e consegue manter a segunda colocação. Frentzen volta aos boxes da Sauber para trocar o bico, danificado pelo contato com Blundell. Este também está nos boxes.
31º: Schumacher completa seu segundo reabastecimento em sete segundos e volta sem perder a liderança da prova.
32º: Schumacher está à frente de Larini (23,6s.), Häkkinen (28,8s.), Wendlinger (31,7s.), Katayama (38s.), Morbidelli (40s.), Fittipaldi (43s.), Brundle (48s.)
33º: Panis e Martini fazem segundo pit stop.
Enquanto a corrida segue, o hospital Maggiore, em Bolonha, anunciou que Senna, em coma, sofria de uma grave fratura no crânio e que seu estado era “extremamente grave”. Seu coração parou por um momento, mas depois recomeçou, afirma a nota.
36º: Vinte e sete segundos separam Schumacher e Larini. Fittipaldi ultrapassou seu companheiro Morbidelli. Wendlinger e de Cesaris fazem o segundo reabastecimento, seguidos por Herbert na volta seguinte.
38º: Häkkinen leva à McLaren para novo reabastecimento (7,7s.). Hill e Bernard também e colocam gasolina e pneus novos.
39º: Schumacher está (31s) à frente de Larini,  Katayama (50s.), Fittipaldi (54s.), Morbidelli (55s.), Häkkinen (58s.) e Wendlinger (1m. 04s.). Martini gira antes da Tosa e dessa vez fica preso na areia. Acabou para o italiano.
40º: Segunda parada para Morbidelli e Brundle. O inglês desliga o motor ao dar a partida e só volta à pista mais tarde.
41º: O motor de Morbidelli desliga após Tosa. O jovem italiano entra no gramado e abandona.
42º: Schumacher está trinta e três segundos à frente de Larini. Katayama e Fittipaldi fazem seus segundos pit stop.
44º: Häkkinen corre entre Katayama e Wendlinger, mas está atrás destes dois pilotos na classificação oficial. Frentzen faz seu terceiro e último pit stop. Hill sobe assim para o sétimo lugar.
45º: Schumacher à frente de Larini (31,8s.), Häkkinen (1m. 04s.), Wendlinger (1m. 07s.), Katayama (1m. 15s.), Fittipaldi (1m. 19s.), Hill (1m. 25s.). ), Frentzen (-1t.), Brundle (-1t.) e de Cesaris (-1t.). No final da volta, Schumacher fez o terceiro reabastecimento e saiu sem problemas.
46º: Trinta segundos separam Schumacher de Larini. Alboreto retorna à sua garagem para o último reabastecimento. Ele acelera, embora sua roda traseira direita ainda não esteja devidamente fixada. A porca se solta na saída do pit lane. A roda voa para dentro dos boxes, atinge vários mecânicos, bem como um fiscal do extintor de incêndio. O carro entra na pista e estaciona na grama. Alboreto está fora, enquanto o pânico reina no pit lane. O pesadelo continua.
47º: Os médicos correm para os boxes para ajudar os feridos. Três mecânicos foram seriamente atingidos: um da Ferrari, um da Benetton e um da Lotus. A direção da prova acende o sinal vermelho nos boxes para que as ambulâncias possam circular. A corrida segue diante do massacre. Gerhard Berger, Niki Lauda e Bernie Ecclestone correm em direção à torre de controle para exigir a interrupção da prova.
48º: Enquanto os médicos estão ocupados nos boxes, a corrida continua.
50º: Quarenta segundos entre Schumacher e Larini. Häkkinen e Wendlinger ultrapassam Katayama. Na classificação geral, o japonês passa atrás de Fittipaldi e depois de Hill. De Cesaris sai dapista em alta velocidade após a Variante Alta e destrói a frente do carro. O romano felizmente escapou ileso.
52º: Os mecânicos feridos são colocados em macas e transferidos de ambulância para a enfermaria do circuito. Felizmente, suas vidas não estão em perigo. Por outro lado, Berger, Lauda e Ecclestone regressaram de mãos vazias da torre de comissários. Eles se recusam a agitar a bandeira preta para não criar revolta de torcida nas arquibancadas.
53º: Schumacher em primeiro, Larini (43s.), Häkkinen (1m. 11s.) e Wendlinger (1m. 15s.). Hill ultrapassa Fittipaldi na classificação por acréscimo e fica em quinto.
54º: Hill fura um pneu e volta aos boxes: com quatro rodas novas está em sétimo, atrás de Katayama.
55º: Fittipaldi perde o controle de seu footwork antes de Tosa e fica preso no cascalho. Hill retorna assim aos pontos.
57º: Schumacher termina a corrida com uma margem de cinquenta segundos sobre Larini.
58ª e última volta: Michael Schumacher vence o sinistro GP de San Marino. Larini é segundo, e chega ao primeiro pódio da carreira. Häkkinen terminou em terceiro, um bom resultado à McLaren-Peugeot. Wendlinger terminou em quarto, à frente de Katayama. Hill embolsa um ponto. Frentzen, Brundle, Blundell, Herbert, Panis e Bernard também finalizaram o GP.
 
Depois da corrida

Schumacher, Häkkinen e especialmente Larini cumprimentam alegremente os torcedores durante sua volta de honra. Eles não sabem quase nada sobre o drama que aconteceu. No pódio, todos respondem com um sorriso aos aplausos da torcida, feliz com a volta à boa forma da Ferrari. Momentos depois, todos foram informados de que Senna estava entre a vida e a morte. Sobre os dois dos mecânicos atingidos pela roda do carro de Alboreto, Maurizio Barberi (Ferrari) e Neil Baldry (Lotus), tiveram respectivamente uma perna quebrada e um leve traumatismo craniano.
 
 
A morte de Ayrton Senna

Imprensa, rádios e televisões correram para Bolonha, em frente ao hospital Maggiore, para obter notícias de Senna, ainda que o comunicado divulgado a meio da tarde deixasse poucas dúvidas sobre o desfecho fatal. E de fato muito rapidamente os cirurgiões notaram o estado desesperador do piloto brasileiro. O braço de suspensão que perfurou seu capacete causou danos cerebrais irreversíveis. Um grande neurocirurgião do hospital Bellaria é chamado por seus colegas de Maggiore para uma operação de última hora, que acabará não se realizando.
 Às 18h, a Dra. Maria Teresa Fiandri, médica-chefe, anunciou o resultado do último encefalograma de Senna. “Ele está clinicamente morto”. Um padre, padre Zuffa, administrou-lhe a extrema-unção. O hospital Maggiore, rodeado de repórteres, torcedores e curiosos, é tomado pelos carabinieri, para evitar a invasão. Às 18h40 finalmente chega a terrível notícia: Ayrton Senna está morto. Ele tinha 34 anos. Como Ratzenberger.
 
A busca pela causa deste acidente fatal irá gerar todo o tipo de versões ....

O dia 1º de maio de 1994 permanecerá inesquecível.

 

Paulo Torino

Fonte texto original: STATSF1


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