por: Paulo Torino
Há muitos anos, na minha primeira corrida de F-Ford na chuva, em Guaporé, conheci a importância dos aerofólios e de seus apêndices nos monopostos.
Era a primeira sessão de treinos e uma forte chuva encharcou a grande reta do autódromo serrano. Querendo aproveitar todos os segundos, afinal nunca havia corrido de Fórmula na chuva e muito menos em Guaporé nestas condições, sai rápido. Na abertura da volta seguinte, compreendi a função dos aerofólios. No meio da reta os pneus dianteiros levantavam uma cortina de água, que cobria as duas laterais do carro, e a minha visão se reduziu a menos de 30% no horizonte sombrio. Um pouco mais a frente, quando atingi a velocidade máxima, cerca de 180 km por hora o carro começou a deslizar lentamente de um lado para o outro. Era como se alguém estivesse empurrando meu corpo para as duas laterais da pista, deslocando o carro do eixo central. Uma sensação que nos monopostos são comuns, quando atingimos as velocidades mais elevadas. Os carros de corrida em geral, e os Fórmulas em especial, ‘flutuam’ quando andamos acima dos limites de aderência dos pneus sobre o asfalto.
Mas naquele dia a tal sensação era de descontrole, se insistisse em manter a velocidade o carro rodaria sobre o asfalto e não sei onde poderia parar. Tirei o pé do acelerador e voltei para os boxes.
Ainda dentro do carro, o preparador Zé Laênio, perguntou – E aí? Como está o carro?
Expliquei o que estava acontecendo e o Zé pediu para que eu descesse. Ele empurrou o carro para dentro do box, abriu uma caixa e tirou um perfil de alumínio – que tinha um formato de L (cerca de 3 cm de altura por 3 cm de largura). Pegou uma fita métrica e fez a medida dos aerofólios, traseiro e dianteiro e cortou duas peças em cima da mesa.
Como já havia parado de chover, ele rebitou as duas, sobre as asas dianteiras que, no modelo Muffato, eram separadas pelo bico do carro.
- Está pronto! Pode ir. – disse, o Zé sorrindo.
Sai com confiança, sem saber o que aqueles pequenos pedaços de metal poderiam fazer.
Na volta seguinte entendi. O Fórmula atravessou a grande reta em alta velocidade, acho que até mais rápido do que havia andado anteriormente e nem sequer balançou. A Fórmula estava colada no chão, era tão firme sobre a piso molhado, quanto na pista seca. Nunca mais esqueci do aleiron e do efeito downforce que proporcionam.
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