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Voando para o desconhecido!



Tinha acabado de completar 58 anos e como presente, havia me inscrito para fazer a corrida de despedida do automobilismo. E não seria nos autódromos, onde estava acostumado a andar desde 1992. Queria correr de kart, num veículo veloz para sentir ´a emoção mais próxima de um F1´, como descrevem muitos pilotos.


Sem nunca ter participado de uma competição oficial de Kart, estava inscrito na categoria F4 com o nº 23 na etapa única do campeonato Gaúcho de 2015, em Farroupilha. Para fazer a prova, contratei a assistência e o aluguel de uma equipe famosa de Venâncio Aires e parti para conhecer o circuito uma semana antes da corrida.


A pista de Farroupilha fica no meio da simpática cidade da serra gaúcha e é famosa entre os kartistas. Antonio Pizzonia foi o primeiro recordista (35s666) correndo o Brasileiro de 1996. Depois, Sérgio Jimenez estabeleceu uma nova marca (35s581) na Copa Brasil 2004, o recorde que permanece até hoje.


Para a manutenção do local, há um kart de aluguel em funcionamento durante a semana. Foi numa destas máquinas que andei as primeiras voltas no kartódromo. No final do treino, o administrador do me entregou a planilha dos tempos e me disse que eu estava 2 décimos acima da melhor marca, para os motores de 18 Hp. Nada mau, pensei!


Confiante, viajei na sexta-feira para aproveitar os treinos livres. Na subida da serra veio a primeira surpresa, chuva. Os treinos foram feitos debaixo d’água naquela manhã e chovia tanto, que quando a nossa categoria entrou na pista, na primeira volta, a bandeira vermelha já estava agitada. Ninguém mais andou naquele dia.


O sábado amanheceu nublado, com a pista ainda úmida, mas a meteorologia garantia que não iria mais chover. Com várias categorias na programação, os F4 fariam quatro sessões de treinos livres pela manhã e mais a classificação.


Esses karts são empurrados por um motor 125 cc refrigerado a água. Um foguete, que em poucos metros atingem a velocidade máxima. Era tamanha a força de aceleração que a minha cabeça parecia que iria sair do pescoço e eu só foi perceber isso quando andei pela primeira vez na última sessão de treinos. A equipe ficou trabalhando durante as três sessões anteriores, ajustando o banco e os pedais do kart. O piloto que andava naquele chassi era muito maior do que eu, e eles tiveram que refazer o kart para ajustar tudo e eu só consegui guiar pela primeira vez às 10h38 da manhã e é claro, fui o último, 10s799 atrás do primeiro colocado, entre os 14 inscritos.


Depois do almoço, partimos para a sessão de classificação. No parque fechado vi pela primeira vez o rosto dos pilotos que iriam competir comigo naquele final de semana e reconheci o Gabriel Robe, que na época corria na Stock Light e pensei –´É o fim, em apenas quatro voltas eles vão me passar !´.


A sessão de qualificação aconteceu depois do almoço e desta vez fiquei ´apenas´ (3s300) da pole, com a melhor volta em 44s959, um avanço significativo festejado pela equipe.



No domingo, fui o primeiro a entrar na pista para o Warm Up e depois de seis voltas, registrei a melhor em 44s609, três décimos melhor, era uma grande evolução.


A primeira bateria, das três do campeonato estava marcada para às três da tarde e eu já estava com o traçado na cabeça. A equipe levou o kart para o local do alinhamento. Quando cheguei o mecânico ligou o motor e mandou eu frear e acelerar. Logo, o lugar ficou completamente coberto de fumaça. Com os motores girando alto e no meio da fumaceira, o meu coração disparou e logo uma bandeira verde foi agitada...





Partimos para a volta de alinhamento, roda com roda, lado a lado, reta de largada, reta oposta, miolo, diretor de prova com a bandeira quadriculada verde-amarela apontada para o alto, pano agitado, aceleradores no fundo...


O kart disparou como um míssil e a única coisa que consegui pensar foi em não bater até chegar na primeira curva. Quando entramos na reta oposta, a pista parecia muita mais estreita e tudo que via era o corpo dos pilotos que estavam na minha frente. Nada mais era possível enxergar com nitidez. Outra curva, freio e acelerador no fundo, os primeiros iam desaparecendo...



Foi a primeira volta mais rápida que alguma vez experimentei. Depois, fui contando às passagens cada vez que cruzava a linha de chegada. A corrida estava programada para 14 voltas, e aqueles 10 minutos foram uma eternidade. A batalha por posições, ou entrega de posições, acontecia a cada curva. No kart 125cc, a luta do corpo contra a velocidade é um esforço que leva todos ao limite e resistir com constância de tempos, até a bandeira quadriculada, é o grande segredo das corridas. No kart ainda mais.


Terminei a primeira bateria em 12º, virando a melhor volta em 44s322, sem levar volta do vencedor, que chegou 38s455 na minha frente.


Na segunda bateria terminei em 11º, marcando 43s799 como melhor volta. Os pneus slick já não tinham a mesma aderência e eu ficava cada vez mais exausto. Na última bateria, terminei em 13º, uma volta do líder. A corrida final teve um maior número de voltas e eu tremia de cansaço, físico e mental.


Na soma dos tempos, acabei em 4º na classificação geral da categoria Super Senior. Não pequei o troféu por detalhe.


O domingo acabou e voltei para casa feliz, com o sonho realizado.


Desde esse dia, o capacete está aposentado.


Última bandeirada - Diretor provas Bruno Barônio



RESULTADOS F4 – Provas Campeonato Gaúcho 2015








 

Fotos: Idalicio Umpierre








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